DE QUEM É A CULPA?

Volto a insistir no tema: temos que adiar a Micareta. É uma incoerência a realização de uma festa que vai reunir, durante três dias, milhares de pessoas num único trecho que não chega a mais de cinco quilômetros, no pique de uma epidemia de Dengue e, o que pode ser mais grave: com a possibilidade de um surto de meningite meningocócica, como a que ocorreu em Salvador, pós carnaval.

Aos que duvidam é só verificar os dois últimos boletins epidemiológicos da SESAB (Secretaria da Saúde BA). Outro fato que deve ser divulgado, para que providências sejam tomadas, é que a grande maioria dos médicos que trabalha nas emergências não é treinada para realizar a punção da coluna para colher material que é fundamental para o esclarecimento diagnóstico se o caso suspeito é de meningite bacteriana. Esse é um dos motivos pelo qual os números de casos de meningite não correspondem às evidências.

Como isso não ocorre na maioria dos casos, pacientes morrem e o atestado de óbito é de dengue hemorrágico. Posteriormente, após o resultado laboratorial negativo para dengue hemorrágico, as autoridades divulgam boletins aliviados atestando de que não se tratava de dengue hemorrágico, daí a pergunta que não respondem: qual foi a causa mortis? Como o último caso de uma menina que morreu no Hospital Clériston.

É comum responderem: de septicemia. Mas qual? Esse é o problema. A culpa então, para alguns, cai para o médico. Como é o que está acontecendo, com o Dr. Raimundo Barreto, médico pediatra do HGCA, que atendeu a criança que após ser medicada foi encaminhada para a sua residência, como piorou retornou e devido à gravidade do caso veio a falecer.

Esse hospital, como os demais da rede SUS e os privados, estão sobrecarregados há vários meses. Em todos eles a média de atendimento por médico é superior a 100 pacientes em menos de 24hs, resultando numa preocupante taxa de ocupação acima de 100%, como agravante há também déficit de UTI, leitos e outras carências.

Para piorar ainda mais a situação, as poucas Policlínicas de Feira e PSF (Programa de Saúde da família) continuam precários o que resulta num péssimo atendimento e sobrecarga para o Clériston.

Enquanto isso o novo Secretário Estadual de Planejamento, diz ser necessário cortar 48 milhões do orçamento da SESAB.

Da mesma maneira absurda, sabemos que cinco agências de publicidade disputarão os 129 milhões de reais destinados à publicidade estadual, só para o ano de 2009. 2010 é outra estória.
Da mesma maneira que a SESAB, orgulhosamente informa ter chegado ao HGCA um moderno aparelho para bacteriologia, fico sabendo que está faltando alguns antibióticos para combater certas bactérias detectadas por este importante aparelho que, já deveria estar disponibilizado há muitos anos nesse importante hospital.

Da mesma maneira que os médicos são responsabilizados por negligência, os salários de muitos estão atrasados por meses e as cooperativas picaretas continuam reinando como antes, licitações suspeitas continuam existindo, da mesma maneira que os salários dos médicos estatutários continuam vergonhosos, da mesma maneira que os médicos dos PSF dos municípios são pagos sem os devidos direitos trabalhistas.

No rico São João passado, bancado às custas dos cofres municipais feirenses que, só com grandes nomes da música sertaneja e brega como Calcinha Preta, foram gastos mais de 600mil reais, sem falar no desvio de funcionários das endemias, desviados para outras funções. Perguntamos: se gastassem menos e mais recursos fossem disponibilizados no combate ao mosquito e na contratação de médicos, o atual quadro seria o mesmo?

Da mesma maneira devemos recordar de como o nosso governador fez questão de dizer que o estado da Bahia disponibilizou 44 milhões de reais só no carnaval. Também devemos lembrar que para não ficar por fora, o prefeito João Henrique, gabou-se de ter gasto mais de 35 milhões nesse carnaval, cujo resultado estamos vendo.

Também perguntamos: se essa gastança fosse dirigida no combate ao mosquito, contratação de mais médicos e compra da vacina contra meningite (que está faltando em Salvador), o quadro da saúde não seria melhor? Da mesma maneira em Itabuna, Porto Seguro e outras cidades.

Resta-nos aplaudir a atitude do Promotor de Itabuna que já entrou com uma representação proibindo a prefeitura de gastar dinheiro público no animado São João, que já está sendo anunciado na mídia.

Aos que concordam comigo em especial aos enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos e demais componente da equipe da saúde, agradeço e digo sempre para seguirem o pensamento do grande Martin Luther King: ´´ O que mais preocupa não é o grito dos violentos nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem caráter, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons. ``

.

Eduardo Leite
eduardoleite@gastroajuda.com.br