Há muitos anos que venho criticando as distorções na medicina, em especial na formação do médico, nas políticas de saúde e, principalmente contra os empresários da doença, estes, um dos cânceres do sistema público e privado, não só no nosso país como também na maioria dos outros países.
Como diretor geral do HCA nomeado no dia 29 de junho de 2007, passei a ser assediado pela imprensa quase que diariamente.
Na nossa última coletiva à imprensa, no HCA, abordei o que a SESAB (Secretaria da Saúde do Estado da Bahia) sob o comando do Dr. Jorge Solla tem realizado no HCA e o que pretende fazer nos próximos meses.
Assumi o HCA e, no mesmo dia, procurei conhecer o hospital que eu iria dirigir. Encontrei o maior hospital do interior da Bahia que, praticamente é referência para mais de quatro milhões de baianos, numa situação se não absurda, criminosa. Sem exagero, uma imoralidade.
Tomei a primeira decisão. Filmei e fotografei todas as dependências do HCA, tínhamos que agir logo e, com certeza, depois de reparado ninguém acreditaria que tão importante instituição fosse tão vergonhosamente administrada no seu passado.
Entender e ter que aceitar o funcionamento da máquina estatal foi e está sendo outra grande luta, pois, apesar de todo empenho, capacidade e compromisso do Dr. Solla, temos muito por fazer para tornar o HCA um hospital digno, capaz e humanizado na sua totalidade.
Não tem sido fácil para nós aceitar a demora na aquisição de equipamentos, contratação de funcionários, efetivar uma manutenção patrimonial, principalmente dos caros e sofisticados equipamentos eletrônicos.
E, tudo isso não se dá por falta de capacidade, interesse ou compromisso da SESAB, essa demora se dá por que não existe só o HCA na rede própria do estado.
Tudo isso se dá por que em 16 anos de governantes do PFL, um verdadeiro crime social foi cometido por gestores incompetentes ou gestores comprometidos com desvios de recursos públicos, a falta de uma política de saúde competente e o uso da máquina estatal como moeda política o que contribui para a destruição da SESAB.
O quadro funcional da SESAB foi esquecido e condições inadequadas de trabalho contribuíram para que profissionais competentes e comprometidos com a ética pedissem demissão.
O concurso público foi substituído por firmas terceirizadas aliadas a gestores se não incompetentes, corruptos. Médicos perderam sua autonomia e tornaram-se presas fáceis de falsas cooperativas médicas.
Os desvios foram muitos e a operação Jaleco Branco da Polícia Federal já confirmou o que já se sabia há muitos anos atrás. Temos certeza de que se esta operação for a fundo, muito peixe graúdo vai dividir cela com ladrão de galinha, homicidas e estelionatários. E devem! A punição judiciária tem que ser para todos e, aos meliantes que tiveram a oportunidade de ocupar cargo público ou conseguiram um anel de doutor, a punição deveria ser em dobro.
Reverter esse caos tem sido o maior desafio do novo governo, mas temos certeza que pelo menos estão no caminho certo.
Durante muitos anos a saúde pública na nossa região era conduzida pelo governo estadual. Com a municipalização plena, nos últimos cinco anos, a responsabilidade e operacionalidade passaram para o município.
Por isso, quando o prefeito atual diz que pegou o município com apenas 14 postos de saúde e que, agora, na sua gestão, tem mais de 101 postos, trata-se de uma falácia ou joguete de palavras, da mesma maneira como endossa a sua secretária da doença ao dizer que Feira de Santana recebe menos recursos do que Vitória da Conquista e Itabuna, esquecendo-se da bagatela de 50 milhões de reais, como comprovou o eminente jornalista Glauco Wanderley, com uma simples consulta no site do SUS.
Com a modificação do sistema público federal, passou para o município de Feira a responsabilidade pelo uso dos recursos federais para a assistência à saúde pública. Para Feira, aproximadamente, quase oito milhões de reais mensais. Parece ser pouco, mas não é. Se estes recursos fossem bem administrados poderia até sobrar.
Falta competência à prefeitura para gerir um sistema de saúde pública eficiente se sobra falta de compromisso para com a comunidade, sobra apoio aos empresários que enriquecem com os procedimentos na saúde pública de alta complexidade e lucratividade (oncologia, hemoterapia, cirurgia cardíaca, hemodiálise e outros), verdadeiros vampiros do sistema da saúde pública. Falta portanto, empenho da prefeitura para gerir uma assistência à saúde básica e de média complexidade.
Sobra empenho e disposição ao atual prefeito para inaugurar pavimentação de ruas sem esgoto e, ainda desperdiçar recursos públicos para contratar bandas caríssimas, como se a obrigação do gestor tenha que ser propagada pelo próprio gestor, utilizando para isso o erário municipal.
A assistência à saúde municipal de Feira é uma vergonha, usar o argumento de que é melhor do que aquele ou outro município é a defesa do enganador. Não estamos aqui para discutir a deficiência dos outros municípios, a comunidade quer discutir o porquê das nossas deficiências.
É do conhecimento de muitos de que assim que assumi a direção do HCA, procurei a secretária da doença do município e o senhor prefeito. Procurava apoio para que o HCA pudesse prestar um serviço eficiente e mais humanizado.
Encontrei imorais barreiras políticas disfarçadas entre sorrisos e falácias. Como admitir que uma festa da magnitude de uma micareta não tenha sido planejada junto à direção do único hospital de emergência da maior cidade do interior da Bahia?
Na quinta feira pela manhã véspera da micareta passada, vi os corredores do HCA lotado de crianças e pais com casos de gripe, diarréia e outras doenças que poderiam e deviam ser atendidas a nível ambulatorial, perguntei a alguns pais porque não procuraram os postos do município, alguns responderam: posto sem médico, posto sem pediatra, médico de férias, não tinha RX, não tinha laboratório.
Em fim, respondiam o que já sabíamos; postos existem, se funcionam bem é outra questão. Desta vez convoquei a imprensa para testemunhar esse absurdo. Confesso que não chamei todos. Dos que chamei compareceram Valter Negrini,da rádio Subaé, Pedro Justino e J. Cardoso da rádio Cultura.
Para nós do HCA foi uma micareta terrível, não pelos casos de urgência decorrentes da micareta, mas devido à falta de planejamento e apoio por parte da PMFS que, com falta de médicos nos postos de saúde fechados no período festivo, resultou em aumento substancial da demanda de pacientes para o HCA, como também a virose pós micareta, associada aos casos de dengue, fizeram com que o HCA ficasse superlotado.
Essa experiência me serviu muito para o período mais festivo ainda, o do São João. No domingo pela manhã notei um grande número de pessoas que procuravam o HCA alegando não ter médicos nas policlínicas.
Telefonei pessoalmente para todas elas, só consegui falar com o médico plantonista da policlínica do Tomba e este colega confessou-me estar com uma grande demanda por que, até então, por volta das 11 h, não tinha médico nas demais policlínicas, versão essa confirmada por funcionários do SAMU.
Procurei o Ministério Público e, fui prontamente atendido pela Promotora Idelzuith Freitas que se prontificou a ligar para a secretária da doença, que estava viajando, para tomar providências.
Por volta das 17.30 a Promotora me disse que foi à policlínica do Parque Ipê e constatou que nessa policlínica estava tudo em ordem, tinha uma médica que estava atendendo normalmente. Como o seu plantão estava acabando, na segunda-feira tomaria posse a Promotora Sunaya de Quiroz.
Por volta das 17.30 a Promotora me disse que foi à policlínica do Parque Ipê e constatou que nessa policlínica estava tudo em ordem, tinha uma médica que estava atendendo normalmente. Como o seu plantão estava acabando, na segunda-feira tomaria posse a Promotora Sunaya de Quiroz.
Na segunda-feira pela manhã, por telefone, falei com a Promotora Sumaya de Queiroz, que me relatou ter ido a três policlínicas, que todas elas estavam funcionando normalmente, estava a caminho das demais e que, posteriormente, relataria tudo ao Promotor Titular Dr. Cristiano Chaves. Falei com a Promotora sobre a policlínica de Humildes e sobre o Hospital da Criança que tinha capacidade para 60 leitos e só 30 leitos estavam disponíveis.
A eficiência e competência dessas promotoras contribuíram para que tivéssemos um plantão eficiente e sem tumulto, apesar do grande número de vitimas de agressão por arma de fogo, tiro, espancamento e acidentes de moto, que procuraram o HCA.
Gostaríamos muito de trabalhar em harmonia com a PMF, mas, infelizmente, tivemos que usar o nosso direito de solicitar a uma instância maior, MPE, que intercedesse para que pudéssemos prestar um serviço eficiente e digno à nossa comunidade.
Não devemos jamais nos conformar com os gritos e ações de corruptos ou maus gestores. Temos que exercer o nosso direito de cidadão e o nosso compromisso com a ética profissional.
Faço as minhas denúncias e protestos, não por motivos pessoais. Por isso venho denunciando há muitos anos os duvidosos interesses da máfia da saúde pública e privada na nossa sociedade.
O Sr. José Ronaldo de Carvalho, prefeito eleito de Feira de Santana por dois mandatos, a Enfermeira Denise Mascarenhas, secretária da doença do município, emitiram ao Ministério Público Federal, documentos mentirosos para proteger o empresário que explora a doença no nosso município, o Sr. José Antônio Barbosa. Por qual interesse?
Finalizando, gostaria de aproveitar a oportunidade para agradecer a toda a imprensa feirense que, sobre esses assuntos aqui mencionados, não mais contarão com a minha participação em depoimentos ou entrevistas, pois, agora, é uma questão da Justiça e da Polícia.
Eduardo Leite
eduardoleite@gastroajuda.com.br
PONTO FINAL; AGORA É COM A JUSTIÇA E A POLÍCIA.
Reviewed by Eduardo Leite
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6/29/2008 12:26:00 PM
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