Logo que assumi a direção do Hospital Clériston Andrade, um paciente morreu por falta de atendimento em neurocirurgia. Por mais absurdo que possa parecer, até então o segundo maior hospital da rede estadual não dispunha de neurocirurgia.
Quando aparecia um paciente que necessitava de neurocirurgia, e eram muitos, ligava-se para a Central de Regulação em Salvador e esperavam-se horas ou dias por uma ambulância com UTI para levar o paciente.
Muitos desses pacientes ficavam com seqüelas, agravadas pela demora no atendimento, e outros morriam, como foi o caso desse paciente, que depois de levar um soco, sem perda da consciência e sem sinais de gravidade, fora para sua casa. À noite, acordou com fortes dores de cabeça e confusão mental.
Era um caso de hemorragia intracraniana e poderia estar vivo e sem seqüelas, caso existisse um neurocirurgião de plantão, que através de um trépano-que vem a ser uma furadeira comum- retiraria o coágulo que estava comprimindo o seu cérebro e a chance de sobreviver seria de mais de 99%.
O caso teve repercussão na imprensa até o esquecimento fazer mais uma página virada, escrita pelos governantes e entidades públicas descomprometidos. Não deu em nada, mas eu não me conformava com tamanho absurdo. Recortei a foto desse pobre infeliz que estava estampada na primeira página do jornal Tribunafeirense e coloquei diante da mesa da diretoria do HCA. Essa foto só sairia depois que eu implantasse um serviço de neurocirurgia no Clériston.
Isso foi feito em dezembro do mesmo ano, assumi no dia 29 de junho de 2007 e no início de dezembro já estava implantado o Serviço de Neurocirurgia no maior hospital da rede estadual de saúde no interior, servindo a mais de 4 milhões de baianos.
Além de implantar esse serviço, elaborei um plano de aumento de leitos de UTI e a construção, em caráter de urgência, de uma enfermaria de neurologia, com UTI de 10 leitos, específicos para neurocirurgia. A não conclusão desses planos comprometeria o Serviço de Neurologia e desqualifica o hospital perante o SUS para o credenciamento em Neurologia, resultando em prejuízo financeiro para o Estado.
Lamentavelmente, parte dos meus projetos não foram concluídos e o Clériston, como era de se esperar, voltou a ser um hospital onde reina o desperdício, abunda a incompetência e prolifera, de maneira descontrolada, o uso da politicagem rasteira e fraudulenta, que continua a fazer vítimas inocentes, na mais explícita Mistanásia.
De janeiro a dezembro de 2009 foram realizadas 136 neurocirurgias no Hospital Clériston e muitas deixaram de ser realizadas por falta de material e quebra do único tomógrafo, cuja reposição, por falta de planejamento, levou mais de quatro meses.
O paciente que ilustra esse texto foi operado no Hospital Clériston de Andrade pelo neurocirurgião Dr. Luiz Carlos, no natal de 2009. Esse jovem, 14 anos, confeccionou uma arma artesanal com um pé de cadeira e ao dispará-la, teve o tiro pela culatra, atingindo o seu cérebro. O pronto atendimento e a competência da equipe médica e de enfermagem salvaram-lhe a vida, sem seqüelas.
Cito esses dois fatos, por ver tanta irresponsabilidade e descaminhos com o dinheiro público por parte desse governo, que prometia nas campanhas políticas reparar os desmandos dos que lhes antecederam.
Pura falácia desavergonhada de pessoas descomprometidas com a ética política e compromisso social. Estes descasos não são por parte da direção e demais funcionários do hospital e sim dos seus superiores. O único erro da direção geral é silenciar-se e concordar com tais descaminhos e ainda tentar defender o indefensável.
Não há falta de dinheiro para a saúde, há falta de planejamento, de seriedade e de compromisso com a ética na gestão pública. Há também falha na prefeitura de Feira e demais cidades pactuadas que na sua grande maioria prestam um serviço de fachada e ineficiente que resulta em uma demanda que vem sobrecarregar o Hospital Clériston. Assim penso, assim provo e aqui, no meu espaço, o meu desabafo.
Eduardo Leite
gastroajuda@hotmail.com
www.politicaecorrupcaonasaude.blogspot.com
5 comentários:
Não conheço a realidade brasileira na saúde em geral e na rede de serviço público em particular.
Mas, pelos casos que vc relata, as coisas não estão nada bem...
Bom fim de semana.
Abraço.
Saudade dos teus olhos sobre minhas letras. Espero por tua visita, ansiosamente.
Com carinho e folhas secas.
Simplesmente Outono.
Caro amigo, bom resto de semana.
Abraço.
Encantador.
Leal.
Sincero.
Amigo.
Cativante.
Essencial.
Solidário.
Inteligente.
Carinhoso.
Honesto.
Meu carinho sempre.
O seu texto sobre o medo, que é excelente, na minha opinião, não posui comentários. Ou então sou eu que não os vejo...
Mas comento aqui.
A sociedade moderna tem que aprender rapidamente a viver com novos medos, porque a realidade também é nova.
Abraço.
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